Da LUZ da LUA à LUZ ELÉTRICA :: Por Fátima Almeida
Fátima Almeida airam22_fafa@hotmail.com
Cá estou eu a recordar a minha Ventura!
Cheiro de mato, refrescantes banhos de rio e à noite, uma lua maravilhosa prateando as pastagens do morro que se levantava à nossa frente.
No início era assim...
Energia elétrica? Era um luxo que nem sonhávamos desfrutar, mas tudo era tão lindo, tão mágico!...
Nas noites de lua cheia sentávamos na calçada e nos deleitávamos ouvindo “causos” e “estórias”, contadas pelos “mais velhos”.
Uma certa vez, ficamos até a madrugada, à espera de uma chuva de meteoros que estava prevista após a passagem de um cometa. Olhos grudados no céu estrelado, de repente, lá estavam eles.
O cometa, claro, não conseguimos visualizar, mas ficamos encantados com os milhares de riscos luminosos que eram atraídos por uma força gravitacional intensa e invisível.
No interior da casa, pequenos lampiões a querosene, os famosos “candeeiros”, sempre com uma caixa de fósforos ao lado, ficavam à nossa disposição, enquanto um ALADIM, (assim chamávamos a luminária imponente que irradiava luz forte semelhante a uma lâmpada fluorescente) iluminava as salas e outro atraía fregueses para o armazém.
O querosene também era usado para fazer funcionar a geladeira, que veio a ser conhecida por lá já no início da década de 70.
Algum tempo depois apareceu o “PIB GÁS” e até hoje eu não sei se esse era o nome da empresa fornecedora ou da engenhoca que acendia as lamparinas instaladas nas paredes. Era o gás de cozinha substituindo “o querosene”. Papai colocou uma dessas lanternas na entrada de casa, e iluminava uma extensa faixa da rua e no “terreiro”, brincávamos de roda, amarelinha, peteca, pega-pega, pulávamos corda e tantas outras atividades lúdicas, que a saudade me faz lembrar.
Nessa ocasião a nossa geladeira passou a funcionar com gás de cozinha.
Trinta minutos antes de apagar a luz, papai dava um sinal fechando e abrindo a válvula que controlava a vazão do gás. Todos que circulavam pelos arredores, cuidavam de retornar às suas casas. Quinze minutos depois, outro sinal alertava algum incauto que ia escurecer e na terceira vez, a luz enfim era apagada. Se não era noite de lua cheia, que maravilha! Brilhando mesmo, só as estrelas no céu e os pirilampos na mata.
E a lua foi ficando esquecida...
O rádio, como falei em outra história, funcionava com pilhas (muitas) e enfim chegou para nós a TV ligada a uma bateria de automóvel. A imagem? Só sombras, mas quando tínhamos sorte, o vento trazia o sinal e conseguíamos vislumbrar alguns fantasmas.
E o progresso foi chegando. Tivemos um gerador, inicialmente movido a gasolina, depois a óleo diesel, que substituiu o “PIB GÁS” e em lugar das lamparinas, surgiram lâmpadas e fios elétricos em todos os cômodos da casa.
Finalmente chegou a luz elétrica. No início, instalada somente nas ruas e o transformador era desligado às 22 horas. Mais adiante, passou a ser distribuída entre as residências e então a TV e o rádio tornaram-se algo mais democrático por lá.
Por essa ocasião, eu já morava na “cidade grande” e continuava apaixonada pelas minhas férias naquele lugarejo, mas, depois do advento da luz elétrica, tudo ficou diferente. As noites de lua cheia ouvindo “causos” e “estórias” na calçada e as animadas brincadeiras foram substituídas pelas novelas da televisão e pelas pequenas reuniões ao pé de uma “radiola” onde a estrela era o Long Play de vinil. Aos poucos, as parabólicas tornaram-se parte da decoração daquele cenário, antes bucólico.
E desde então, minha Ventura nunca mais foi a mesma. Perdeu a magia das noites onde a lua era soberana senhora e as estrelas eram parceiras cósmicas dos vaga-lumes!
Mas isso é assunto para outra história.
Por Fátima Almeida - Escrito em 10/02/2011
Nota:
Antes e após a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, os indígenas (povoadores) utilizavam a luz do fogo (fogueiras) e a claridade da Lua como forma de iluminar suas noites. Não há registro de outra forma de iluminação usada na época.
Os portugueses trouxeram consigo as formas de iluminação utilizadas na Europa, como a lamparina à base de óleos vegetais ou animal. O óleo de oliva era um dos mais utilizados, mas era fabricado somente na Europa, por isso tinha altos custos, somente uma elite nobre o utilizava.
Com o alto custo do óleo de oliva, rapidamente ele foi substituído por outros óleos fabricados no Brasil, como o óleo de coco e de mamona (principalmente). Posteriormente, foram produzidos os óleos derivados de gordura animal (principalmente peixes) e fabricadas velas feitas de gorduras e de cera de abelha (produtos que não eram utilizados nas residências da população pobre), em razão do alto preço.
Até o século XVIII, não existia iluminação pública – nos momentos de festas e comemorações, a população iluminava as faixa das casas com as velas feitas de sebo e gordura. No século XIX, algumas cidades brasileiras passaram a ser iluminadas com lâmpadas de óleo de baleia. Na cidade do Rio de Janeiro, a iluminação pública à base de óleos vegetais e animais foi implantada no ano de 1794.
No ano de 1854, São Paulo foi a primeira cidade brasileira a implantar a iluminação a gás – esse serviço ficou na cidade até meados de 1936, quando foram apagados os derradeiros lampiões.
A cidade de Campos, no Rio de Janeiro, foi a primeira cidade a ter luz elétrica nas ruas, em virtude da presença de uma usina termoelétrica, desde 1883. Rio Claro, em São Paulo, foi a segunda cidade a ter luz elétrica nas ruas, também em razão da presença de uma termoelétrica. A cidade do Rio de Janeiro somente implantou o serviço de luz elétrica nas ruas no ano de 1904; e São Paulo, no ano posterior, em 1905.
Embora, atualmente, São Paulo seja a cidade mais populosa do País, no fim do século XIX tinha apenas 20 mil pessoas, e a eletrificação chegou à cidade apenas em 1889, enquanto Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro, foi a primeira cidade do País a receber um sistema de distribuição, em 1883. Rio Claro (SP) foi a segunda a contar com o sistema, em 1884; Porto Alegre (RS), em 1887; e Juiz de Fora (MG) foi eletrificado em 1889.
A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) foi criada durante o Estado Novo, pelo presidente Getúlio Vargas através do Decreto-Lei nº 8.031 de 3 de outubro de 1945, e constituída na primeira assembléia geral de acionistas, realizada em 15 de março de 1948.Tem a missão de produzir, transmitir e comercializar energia elétrica para a Região Nordeste do Brasil. Atende tradicionalmente (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí).
A história da Coelba começa no dia 28 de março de 1960, data da sua criação. Na época, a energia elétrica, na Bahia, era fornecida pelas prefeituras municipais e algumas companhias, inclusive uma estadual que atendia a Salvador e parte do Recôncavo.
Fonte: Google