ENARE 2025 e o futuro da residência médica: salário, carga horária e estrutura em debate
Enquanto o exame tenta ampliar oportunidades no Brasil, médicos residentes ainda enfrentam desafios salariais e estruturais, em comparação com o exterior

Com o ENARE 2025 (Exame Nacional de Residência), o Brasil tem democratizado o acesso de estudantes de medicina à residência médica. Implementado desde 2020, esse processo seletivo se baseia nos sistemas francês e espanhol de distribuição de vagas, para oferecer mais previsibilidade aos candidatos e facilitar a escolha por regiões historicamente menos procuradas pelos alunos.
Entretanto, mesmo com esses avanços e benefícios, o tema da remuneração dos residentes ainda é um assunto cercado de polêmicas. De acordo com a Portaria Interministerial nº 9, de 13 de outubro de 2021, o valor da bolsa de residência médica no Brasil, fixada pelo governo federal, é de R$ 4.106,09, com carga horária semanal de até 60 horas, incluindo 24 horas de plantão.
O problema é que queixas como carga horária exaustiva, falta de folgas compensatórias e infraestrutura, além de sobrecarga de funções assistenciais, podem dificultar o trabalho dos residentes. E como se isso não bastasse, ainda existem reclamações sobre a limitação na formação prática em diversas instituições de ensino no Brasil.
ENARE 2025: o incentivo da interiorização, mesmo com falta de estrutura
Elogiado por diversos especialistas da área, o ENARE 2025 promove a interiorização da residência, ao incentivar a ida de profissionais para regiões mais carentes. Com isso, estados das regiões Norte e Centro-Oeste passaram a contar com vagas mais atrativas para os estudantes. Algumas até contam com auxílio-moradia e estrutura hospitalar moderna.
Porém, mesmo com esses incentivos, a bolsa ainda está longe do padrão ideal empregado por países como Holanda, Austrália e Estados Unidos. Segundo o site Academia Médica, na Holanda, o salário médio é de US$ 253.000 ao ano – 6 vezes mais do que a média salarial da população em geral.
Já na Austrália a remuneração é de US$ 247.000 ao ano – 7,6 vezes mais do que a média salarial dos australianos. Nos Estados Unidos, o salário é de US$ 230.000 ao ano – 4,1 vezes maior do que o restante dos americanos.
Apesar de possuir muitos centros de excelência, com bons preceptores e infraestrutura adequada, o Brasil ainda tem muitos relatos de residentes a respeito de jornadas superiores ao permitido, falta de supervisão qualificada e ausência de benefícios básicos, como alimentação ou moradia. Isso deixa a formação menos atrativa e desestimulante para os recém-formados atuarem dentro do território brasileiro.
Como melhorar?
Para valorizar a residência médica em todo o território brasileiro, é preciso desenvolver políticas públicas que revisem não somente o valor da bolsa, como as condições de trabalho e até mesmo o aprendizado. A expansão do ENARE pode ser um bom caminho, principalmente se tiver financiamento adequado, fiscalização de carga horária, ampliação de benefícios e infraestrutura hospitalar mais adequada.
Em suma, com a crescente competitividade global e o aumento da mobilidade médica internacional, somente uma formação de qualidade bem remunerada e com condições dignas de trabalho pode reter talentos no país. O ENARE 2025 é um grande acerto ao organizar o acesso, mas ainda é preciso que os médicos residentes tenham um tratamento que seja equiparável a responsabilidade e dedicação destes profissionais.