Seu cão no São João :: Por Cristina Almeida
Jornalista Cristina Almeida - Foto: Destaque Notícias
O cão tem a audição quatro vezes mais aguçada que a do ser humano, pode saber a origem do barulho em apenas seis centésimos de segundo e detecta sons em diferentes frequências. Afinal, sua memória genética recente traz todos os elementos de sobrevivência que precisava até poucas gerações atrás. Esta extraordinária sensibilidade auditiva antes garantia sua subsistência; hoje, na convivência domesticada, é seu maior pesadelo.
Quem tem cachorro sabe que datas como Ano Novo, São João e Copa do Mundo são verdadeiros infernos, porque são épocas onde os famigerados fogos de artifício estão por toda parte estressando-os sem piedade. Os bichos sofrem auditiva e psicologicamente, pois além de os sons doerem em seus ouvidos, os estampidos não lhes são compreendidos.
As reações são muito individuais. Alguns se mostram apenas incomodados, mudam um pouco de comportamento, mas a maioria pena bastante, tremendo sem parar, ficando hiperativo, roendo objetos, arfando, buscando a atenção do dono, chorando, escondendo-se num canto, salivando, com o coração a mil, sem comer, nem beber. Tem do tipo que late sem parar na direção de onde vem o barulho, mas nitidamente um latido nervoso, que mostra o quanto está sofrendo.
Há casos em que o cão desenvolve tanto pânico, que foge em desespero saltando muros, quebrando vidraças, pulando por janelas e varandas de apartamentos etc. Alguns são atropelados; outros se mantêm peregrinos até a morte por desorientação. Os que não conseguem escapar de onde os barulhos estouram seus ouvidos, batem a cabeça contra a parede, podem se enforcar na própria coleira e têm convulsões ou ataques cardíacos seguidos de morte. Enfim, a época junina requer um olhar mais cuidadoso para quem cria e mais piedoso para quem respeita os bichos, não somente cães, como gatos e aves. Ignoremos os incuráveis humanos negligentes, pois, para estes, a compreensão do assunto está definitivamente fora de alcance.
O que fazer:
Complicando o quadro, a maioria das clínicas está fechada nestes períodos festivos. A ordem é, então, prevenir. A primeira técnica é usar a psicologia para transmitir calma e confiança.
– Procure ficar perto do seu cão. Se não puder, ao menos certifique-se de que ele não pode fugir do local onde se encontra;
– Alguns animais se sentirão mais seguros se estiverem no colo do dono. Assim, tente segurá-lo com firmeza e acalme-o com frases tranquilas e equilibradas. O importante é a entonação, você sabe;
– Para minimizar o estresse, aja tranquilamente e fale baixo durante todo o tempo;
– Seja compreensivo sem, no entanto, reforçar o comportamento medroso e ansioso. Seja firme na comunicação de que não há o que temer. Caso contrário, estará contribuindo para incentivar o pânico. Você nem sempre poderá estar ali disponível;
– Jamais repreenda-o quando perceber que ele tem medo;
– Fique atento aos horários de passeio. Se necessário, antecipe a caminhada diária, para que ele não urine ou defeque durante o momento de estresse;
– Se seu cão estiver entre os casos de estresse mais graves, sede-o, sob a supervisão de um veterinário, é claro;
– Recompense-o sempre que ele se mostrar calmo diante de um estampido;
– As fobias dos cães podem ser anuladas se for desenvolvido um trabalho de dessensibilização. Isto é, ir progressivamente expondo o cão a sons cada vez mais intensos e associando estes sons a coisas agradáveis, tais como petiscos.
Para reduzir o barulho dos fogos:
– Coloque o animal em um local fechado e vede bem todas as janelas, para que ele não possa escutar as explosões com tanta clareza (um quarto ou local em que entre pouco som);
– Feche as persianas e cortinas para isolar inclusive a luz;
– Estenda cobertores pesados nas janelas e no chão desse quarto;
– Ligue a televisão ou o rádio. Ponha um CD ou DVD que não seja sonoramente excitante;
– Cubra o animal com algum edredom. O importante, nesse caso, é reduzir ao máximo todo o ruído que pode atormentar o seu bicho;
– Se necessário, faça uma espécie de toca, longe da janela, onde o cão possa se sentir abrigado. Coloque um de seus brinquedos no local;
– Quando a hora dos fogos é previsível, mantenha-o perto da TV ou do rádio e vá aumentando o volume à medida que a hora mais estrondosa se aproxima. A ideia é fazê-lo acostumar-se com o som alto para que o barulho inesperado dos fogos não o assuste tanto;
– Alguns veterinários recomendam tampões de algodão ou silicone nos ouvidos do animal.
*É jornalista.