A saúde nua e crua - Parte III :: Por Almeida Lima
...Ademais, é fundamental ter clareza do ambiente a intervir. A carência de ações na atenção básica, tanto preventiva quanto curativa, em todos os nossos municípios, tem causado perplexidade e vexames...
Almeida Lima*

Almeida Lima - (Foto de arquivo: Rosevelt Pinheiro/Agência Senado)
É claro que esse projeto depende de acordo a ser feito entre o estado e os municípios, após tramitação nas instâncias do SUS, e, só a partir daí, se tornará a expressão máxima do planejamento em saúde, com a divisão dos recursos do SUS e a forma de execução de todos os serviços de saúde nos municípios e nas regiões, a fim de abranger o atendimento a toda a população de maneira efetiva, organizada e facilitada.
Mas é imprescindível que essa nova política de saúde seja construída na forma aqui preconizada, por não se admitir planejamento e execução de ações de saúde de modo individualizado a partir do estado ou de cada município, isolados um do outro. Sabemos que essa postura autoritária e isolacionista foi introduzida pela arrogância de Rogério Carvalho, e ela faliu, deixando como consequência o caos e o sofrimento do povo.
Essa é uma proposta de planejamento estratégico e de execução coletiva, devendo-se levar em consideração circunstâncias e fatores que preponderam na tomada das decisões. Refiro-me, entre outros aspectos, ao território sergipano que é pequeno, com apenas setenta e cinco municípiose com suas sedes bem próximas umas das outras, daquelas que não chegam a 20km de distância; à falta de médicos em número suficiente nas diversas especialidades; e à falta de recursos financeiros para a contratação do quadro de especialistas, da estrutura física, dos equipamentos e aparelhos.
Ademais, é fundamental ter clareza do ambiente a intervir. A carência de ações na atenção básica, tanto preventiva quanto curativa, em todos os nossos municípios, tem causado perplexidade e vexames. Os programas de imunização da população e de controle dos parasitas e vetores não têm sido eficientes, tornando endêmicas, em nosso meio, as chamadas doenças tropicais negligenciadas. Até mesmo a sífilis está em processo de propagação pela precariedade dos programas de saúde da família que não realizam, com eficiência e controle, o pré-natal em todas as gestantes, ocorrendo inúmeros casos em que não se registra uma única consulta médica durante a gestação.
Bem mais vexatório acontece na Média e Alta Complexidades Ambulatorial e Hospitalar. Não há ordenamento; não há fluxos nem referenciamento; quase sempre não há serviços à disposição dos usuários. Filas e filas enormes para uma consulta, um exame, um tratamento ou cirurgia. Enquanto isso o povo morre à míngua, nessa indigência criminosa sem a assistência do estado. Afinal, essa foi a herança maldita decorrente de uma política inadequada patrocinada pelo então secretário Rogério Carvalho e que tem continuidade com Belivaldo Chagas. Como já afirmei, foram milhões e milhões de reais para o lixo por conta da mediocridade, irresponsabilidade e arrogância dessas figuras.
No próximo artigo apresentarei a equação final desta política de saúde pública para o estado de Sergipe.
*É advogado, ex-deputado estadual e federal, ex-prefeito de Aracaju, ex-senador e ex-secretário de Estado da Saúde de Sergipe.
Confira AQUI mais artigos do Almeida Lima