Aracaju (SE), 29 de abril de 2025
POR: Almeida Lima
Fonte: Almeida Lima
Em: 27/10/2018 às 21:06
Pub.: 27 de outubro de 2018

IDA PARA O CADAFALSO :: Por Almeida Lima

Ambos não me representam

Almeida Lima*

Almeida Lima (Foto: Jadilson Simões/Arquivo Rede Alese)

Almeida Lima (Foto: Jadilson Simões/Arquivo Rede Alese)

Antes das eleições de primeiro turno, exatamente no dia 14 de setembro, escrevi o artigo Insensatez e, logo a seguir, ela se fez presente enquanto resultado da eleição. Agora, no segundo turno, estou sem alternativa. Convicto e sem hesitação tomei a decisão de anular o voto. Isto mesmo. Nego-me a somar para a eleição de um dos dois concorrentes, porquanto as suas ideias, atitudes e programas de governo agridem a minha consciência moral, política, cívica, social e religiosa.

Abomino a tortura sob qualquer pretexto ou viés ideológico, patrocinada por quem quer que seja, da mesma forma que abomino o aborto. Ao Combater a ditadura militar de 64 no Brasil eu o fiz em defesa de liberdades democráticas, e não para vê-la substituída por outra ditadura. Desejo que o Brasil seja um estado multilateralista, que respeite a autodeterminação dos povos, que seja aberto e sem alinhamento de natureza excludente com qualquer outro país, ou bloco de países. Contesto a subalternização dos interesses nacionais ao capital estrangeiro; contesto a manifesta decisão de privatizar tudo que nos restam de estatais, e contesto o financiamento de obras em outros países com recursos nacionais a cargo do BNDES, os quais devem ser destinados às ações de desenvolvimento econômico e social do Brasil, razão de sua existência. Defendo uma sociedade plural e sem classes, sem realce, glamour ou discriminação aos que são diferentes pela opção sexual, pela cor da pele, pela condição econômica ou social, ao tempo em que cultuo a família enquanto união de pessoas e como instituição fundamental à organização da sociedade e à assistência e educação de seus membros. Assim, não dá para conciliar. Tudo isso me faz diferente. Ambos não me representam.

De certo modo, nós brasileiros, já imaginávamos que o segundo turno seria disputado entre esses dois elementos. O mundo é que se surpreendeu com a nossa “capacidade” de, voluntariamente, conduzir-nos para uma tragédia anunciada, embora o primeiro mundo já tivesse feito isso antes, e o preço pago a humanidade já conhece. Assim, de um lado está o candidato do PT cujas maiores lideranças formam uma quadrilha de marginais (assim a justiça já se pronunciou), uns presos, a exemplo do líder maior, e outros a caminho da prisão; e do outro lado um sujeito saído da caverna (da caserna também), uma figura tosca, desastrada, patética e asquerosa que acalenta e professa concepções políticas, morais e sociais próprias do estado de barbárie, cujo terror ele propaga sob o aplauso de multidões. A que ponto chegamos!

Não encontro explicação para esse fenômeno senão na psicanálise social, no que se chama de mistificação das massas pela propaganda política (Sergei Tchakhotine). Nada de novo que um dia já não tenha sido escrito por Étienne de La Boétie (1549), por Sigmund Freud ou mesmo por Erich Fromm (1941). A sociedade brasileira é um poço profundo em desigualdade, e ela acentua-se por conta das desigualdades regionais. Embora haja demandas comuns, todos os segmentos sociais possuem as que lhes são próprias, e aí os interesses passam a ser díspares. Se o momento histórico hoje é o da derrocada do país pela decadência econômica e pela degradação moral, a psicanálise nos diz que as massas estão aterrorizadas, com insegurança e medo.

Em momento de eleição presidencial com a conjugação desses fatores, o ambiente se torna fértil para os super-homens e os salvadores da pátria..., enfim, tudo que as multidões, nessas circunstâncias, desejam. A campanha eleitoral passa a ser adjetivada, rotulada, clichezada. Não há espaço para o pensamento, para a racionalidade, para as ideias, e a polarização não tarda entre os mais tirânicos ou messiânicos, entre os que gritam mais, xingam mais ou até entre aqueles que têm “aquilo roxo”.

É nesse clima que o indivíduo abdica da liberdade de pensar e do direito/dever de decidir por si, pela racionalidade de sua consciência. Ele transfere a responsabilidade para as pesquisas ou para as massas difusas, sem rosto, sem identidade, ocasionais... Afinal, lhe parece mais cômodo não assumir nenhuma culpa ou responsabilidade. Amanhã, domingo, 28 de outubro, se dará a disputa da insensatez contra a insensatez.

*É advogado, ex-deputado estadual e federal, ex-prefeito de Aracaju, ex-senador e ex-secretário de Estado da Saúde de Sergipe.

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