O "ex-dragão gordinho" que mobiliza a paixão de 1,3 bilhão de torcedores
Conheça o perfil de Ma Long, um dos heróis nacionais da praticamente imbatível seleção chinesa de tênis de mesa.
Viso geral do pavilho do tnis de mesa no Riocentro (Foto: Gustavo Cunha/Brasil 2016)
Se a divisão populacional entre os países valesse como critério para definir audiência, seria válido dizer que, para 20% das pessoas conectadas aos Jogos Olímpicos do Rio mundo afora, há um nome tão ou mais relevante que Usain Bolt, Novak Djokovic ou os astros da NBA. Um atleta de 27 anos que não fala inglês com naturalidade, é tímido para dar entrevistas com o tradutor chinês-inglês ao lado e carregou durante um bom tempo, na adolescência, o apelido de "Dragão Gordinho".
“Eu tinha o rosto meio cheinho, redondo, quando era mais jovem e ganhei esse apelido dos colegas de equipe”, disse Ma Long. Hoje mundialmente conhecido pelo ótimo trabalho de pernas durante as partidas e a forma física impecável, o atleta de 27 anos, 1,75m e 72kg é o número um do ranking mundial do tênis de mesa.
Na China, o esporte tem dimensão cultural e simbólica similar à do futebol no Brasil. Há quem brinque que, para eles, não trazer para casa todos os ouros do tênis de mesa teria peso comparável aos 7 x 1 do Brasil na semifinal da Copa de 2014. E existe um quase consenso na modalidade: a competição interna para definir o time chinês é mais complicada do que a tarefa de ganhar de todos os competidores do resto do mundo.
“As duas coisas são muito, muito difíceis”, afirmou Ma Long, após a primeira sessão de treinos da equipe asiática no Pavilhão 3 do Riocentro, palco da modalidade nos Jogos Olímpicos, entre os dias 6 e 17 de agosto. “Nos quatro últimos anos, treinei muito duro e joguei partidas e torneios extremamente difíceis. Como todos sabem, a competitividade dentro da equipe chinesa é forte. Só havia duas vagas para estar aqui, e conseguir estar nesse posto exige dedicação”, afirmou.
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Incontestável
A hegemonia da China no tênis de mesa não encontra paralelos olímpicos. Das 28 medalhas de ouro disputadas desde que a modalidade entrou em cena nos Jogos, em Seul (1988), 24 estão lá. Nos últimos quatro anos, não houve torneio internacional de grande relevância, como Mundiais e etapas mais concorridas da Copa do Mundo, em que os títulos masculino e feminino não ficassem com eles.
E Ma Long se destacou no período. Depois de ficar de fora da chave individual dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, e ter de se “contentar” com o ouro olímpico por equipe, o atleta encontrou o auge de sua forma, não só física e técnica, mas principalmente mental. Visto por algum tempo como um atleta que ocupava um degrau abaixo dos companheiros no critério psicológico nas horas mais tensas, ele virou essa página com um incontestável título mundial individual em 2015, disputado na China, e o título da Super Final do Tour Mundial, em Portugal.
Pressão
Com amplo favoritismo na disputa por equipe, o grande desafio de Ma Long na chave individual tem tudo para ser contra seu compatriota e atual campeão olímpico, Zhang Jike. As partidas entre os dois costumam ser épicas e envoltas em rivalidade, embora nos últimos meses Zhang Jike tenha sido o único entre os chineses da seleção a perder algumas vezes para “não chineses” no circuito mundial. Mas, ao mesmo tempo, Jike é conhecido pela capacidade de brilhar mais intensamente em eventos de grande porte.
“O único trunfo do resto do mundo é que eles chegam sob muita, muita pressão. É desse cenário bem específico que algum outro atleta pode ser aproveitar. As Olimpíadas são um torneio diferente, com uma atmosfera diversa”, afirmou recentemente, durante um torneio de demonstração da modalidade no Rio, o veterano Jean-Michel Saive. O belga já liderou o ranking mundial da modalidade e disputou sete vezes os Jogos Olímpicos. “E o Ma Long tem mesmo de se cuidar. O Zhang Jike é bem conhecido por tirar cartas da manga em torneios de grande repercussão”, completou Saive.
Ma Long diz ter exata noção disso. “Existe, sim, muita pressão. A medalha de ouro individual olímpica está num nível bem mais alto na comparação com qualquer outro torneio. A minha expectativa, claro, é buscá-la. Mas sei que, para isso, preciso estar 100% focado o tempo inteiro e desempenhar 100% do meu jogo”, afirmou o campeão mundial.
Elogios ao Brasil
A equipe brasileira, no cenário mundial, ocupa um status de coadjuvante qualificada. Qualificada porque tem sido hegemônica, principalmente no masculino, no continente americano. No ano passado, o país ficou com o título individual e por equipes do Pan de Toronto, no Canadá. Além disso, Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi e Cazuo Matsumoto, o trio que representará o país no Rio, tem feito partidas bastante equilibradas contra atletas do top 20 do mundo, conquistando inclusive importantes vitórias. Para Ma Long, esse crescimento tem sido visível.
“Nos últimos anos, o Brasil melhorou bastante, com jogadores muito competitivos. Eles têm uma comissão técnica extremamente qualificada e vejo um futuro promissor para eles”, afirmou, citando especificamente um dos consultores técnicos da equipe brasileira, Peter Karlsson. O sueco foi tetracampeão mundial por equipes e campeão europeu na chave individual em 2000.
Riocentro
A competição de tênis de mesa olímpica no Riocentro vai reunir 172 atletas. São 86 na chave masculina e outros 86 na chave feminina. Há duelos por equipe e nas chaves individuais. Assim, a modalidade distribui quatro medalhas de ouro. As partidas da chave individual são disputadas em melhor de sete sets, cada um deles de 11 pontos. O saque muda de atleta a cada dois pontos. Se houver empate em 10 x 10, é necessário construir uma vantagem de dois pontos de diferença para ganhar a parcial. E, nesse caso, os saques são realizados de forma alternada.