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Aracaju (SE), 31 de outubro de 2025
POR: José Lima Santana
Fonte: José Lima Santana
Em: 31/10/2025
Pub.: 31 de outubro de 2025

A Impaciência e Pedrinho Boca de Sapo :: Por José Lima Santana

José Lima Santana*
José Lima Santana - Foto: Arquivo Pessoal
Compadre meu, João das Onças, caçador destemido era. Foi. Caçou bicho de penas, de pele e de couro. Bichos alados e rastejantes; de quatro patas então, foi de magote. Compadre meu, era dos galegões das Timbiras, do Barro Vermelho, do Tauá, do Campo Grande e do Catolé, gentes do Pé do Branco e dos Enforcados. Galegões dos Garcia, dos Muniz Barreto, dos Vieira e dos Figueiredo. Famílias trepadas em troncos de árvores genealógicas bem fornidas. 
 
“João das Onças! Ô João das Onças”! Era Pedrinho Boca de Sapo, agoniado como sempre, chamando compadre meu, na soleira de sua porta, nem bem o romper da aurora vestia-se de dourado com manchas avermelhadas. Comadre minha, Dona Zita de Zé Moreno, seu pai, atendeu à janela, segurando os seios por detrás do camisolão de dormir, mais parecendo um jardim de pano. “João taquí, não, ‘seu’ Pedrinho. Alevantou voo muito cedo. Astanoite, ele disse que ia ao Catolé, na casa do pai dele. Talvez viajassem, viagem curta. O senhor tá precisado de alguma coisa, que eu possa lhe servir”? Boca de Sapo coçou a cabeça, tirando o chapéu preto de baeta, meio surrado. “Carece nada, não, Dona Zita. Eu me acerto com ele, adepois”. 
 
Adepois podia estar longe demais. Pedrinho tinha pressa em ouvir o que João das Onças, compadre meu, tinha a dizer sobre o cunhado de sua irmã, Margarida, casada com Américo de Olegário Rêgo, dono da Panificação Eldorado. O tal cunhado andou de tró- ló-ló com sua filha, na buchada de Emerenciana de Tomás de Quincas, que a mulata de bons entroncamentos fazia e vendia, todo sábado. Não chegava para quem queria. Até a mulher do juiz, Dr. Cerqueirinha, metida que só ela, rendeu-se à buchada da mulher de Tomás de Quincas. Eram duas panelas de barro, das grandes, bem grandonas, que ela usava para os amarradinhos, costurados a linha de carretel. 
 
Aos miúdos de bode ou de carneiro, adquiridos de Arnaldo Pafó, ainda no seu quintal, onde se dava a matança dos inocentes, debaixo da mangueira-espada de copa avantajada, que Emerenciana cuidava com todo zelo e técnica. Limpava tudo direitinho, banhando em água limpa com limão. Deixava de molho, em banho-maria. Uma hora depois, cortava os miúdos em diminutos pedaços. O bucho, revestimento dos amarradinhos, era cortado no tamanho ideal. Tudo era, então, temperado. Cominho, sal, pasta de gengibre, massa de açafrão, alho picado, bem esfarelado. Prontos para ir ao fogo, depois de costurados, os amarradinhos.  
 
De tró-ló-ló, Maria Rosa andou com o cunhado de Margarida, um tal de Ângelo Vítor, estudante de Direito, na capital. Sujeito bem-falante, do tipo de engabelar mocinhas desavisadas, inocentes como rãzinhas de beira de fonte, que não presentem as cobras em silencioso rastejo. 
 
Longe não ficava o Catolé. Meia légua, pouco mais. Para lá, Pedrinho deveria ir de rota batida. Daria com João das Onças, compadre meu, talvez tomando o café da manhã com ‘seu’ Anacleto Vieira e Dona Cristina, pai e mãe. Selou o cavalo Brioso, meteu o pé no estribo e aboletou-se mundo afora. Tinha caído uma chuvinha na noite anterior e o cavalo galopava, chispando lama para os lados. 
 
Não passou de meia hora, a galopada de Pedrinho Boca de Sapo. Apeando no terreiro da casa de ‘seu’ Anacleto, amarrou o cavalo no pé de pitomba. Bateu palmas. Dona Cristina, pesadona, acudiu. “Bom dia, Pedrinho, como vai Vera Lúcia, sua esposa? E a menina Maria Rosa, cada vez mais linda”? Linda, sim, Maria Rosa era um botão de rosa em flor, desabrochando no jardim da vida. Não era para o bico de um qualquer. “Tá tudo bem, lá em casa, Dona Cristina. João seu filho, compadre meu, andejou por aqui, nesta manhãzinha”? 
 
Anacleto e João das Onças, o melhor e maior caçador de todas aquelas bandas, do agreste ao sertão, tinham ido a Morro Azul, para comprar um gado a Paulo Guedes, um sujeito com eles aparentado, dos galegões das Timbiras. Pernoitariam por lá. Foi o que disseram e para tanto foram preparados. Morro Azul distava três léguas e meia, talvez mais. Pedrinho Boca de Sapo teria que aguardar. Voltou para casa, impaciente. 

*Padre (Paróquia Santa Dulce dos Pobres – Aruana - Aracaju), advogado, professor da UFS, membro da ASL, da ASLJ, da ASE, da ADL e do IHGSE.

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