Jornalistas pesquisam ruído na comunicação governamental destinada às vítimas de violência doméstica
Grupo estuda inadequação no discurso corporativo como fator de ineficiência na política pública

A inadequação no vocabulário da comunicação governamental sobre recursos de acolhimento, proteção e de emancipação financeira dificulta a compreensão das vítimas de violência doméstica no Brasil.
"Esta dificuldade compromete a compreensão das vítimas, retarda o socorro, mantém a indulgência e alimenta as estatísticas de mortes de mulheres em todo território nacional", denúncia Eliz Moura, radialista, jornalista, pós-graduada em marketing e pós-graduanda em gestão de pessoas no ambiente corporativo.
São informações muito institucionalizadas.
"A vítima de violência doméstica, em situação de vulnerabilidade social, cadastrada no CadÚnico, deve se dirigir ao CREAM, em busca de acolhimento e atendimento psicossocial, solicitar uma medida protetiva e ser beneficiada com o Cartão CMais Mulher, um programa governamental de assistência financeira emergencial, podendo ser encaminhada ao mercado de trabalho", descreve.
"Este é o tipo de comunicação corporativa que se conecta rápida e seletivamente com as autoridades. Mas ignora o contexto social da vítima, já apontado nas estatísticas como majoritariamente composto por mulheres pobres, pretas e de baixa escolaridade.
"A mulher agredida e ameaçada de morte precisa saber que tem o direito de ser retirada com urgência do episódio da agressão, receber o atendimento médico, psicológico, a orientação jurídica, além da assistência financeira de forma direta, clara e objetiva", alerta a jornalista Sandra Pereira, evidenciando que a comunicação corporativa é eivada de vocábulos e adjetivações que circundam exclusivamente o universo governamental e não evita mortes.
Dominação - É preciso alertar as mulheres que ciúme excessivo não é prova de amor. O controle de roupas, imposição de comportamentos, enquadramento de imagem e
limitação de mobilidade são indícios fortes de dominação da identidade e contenção da expressão feminina. Este pode ser o início da invalidação da pessoa.
Isolamento social - é mais um passo para a exclusão dos grupos de apoio primário e secundário. "Primeiro, a mulher é isolada da família, onde se concentram os membros que podem impedir a agressão. Simultaneamente, a vítima é isolada dos amigos, que podem denunciar ou encorajar a denúncia contra o agressor.
Medida protetiva - é o documento que traduz um conjunto de determinações de um juiz (a) que assegura a saída do agressor do lar, o distanciamento social, o bloqueio da comunicação e impõe medida financeira de subsistência da vítima e de seus descendentes.
"Infelizmente, embora muito divulgada como recurso de segurança, a medida protetiva tem se prestado muito mais a prenunciar o crime de feminicídio do que evitá-lo. São registrados diariamente 5 crimes prenunciados e 6 tentados em todo Brasil", lamenta Eliz Moura.
Cartao Cmais Mulher - No estado de Sergipe, mulheres vítimas de violência doméstica e que convivem sob ameaças de morte podem ter acesso a um auxílio financeiro por até seis meses. Mas desconhecem o direito, corporativamente denominado CMais Mulher, que consiste simplesmente numa bolsa-renda de assistência emergencial no valor de R$ 3 mil, subdividos em 6 parcelas de R$ 500,00.
CREAM - é um centro de referência em atendimento às vítimas, geralmente subordinados aos Tribunais de Justiça dos Estados.
CadÚnico - Cadastro Único para Programas Sociais que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda residentes em todo território nacional.
Vulnerabilidade social - é uma condição de fragilidade ou exclusão de indivíduos ou grupos sociais. Pode ser causada por fatores socioeconômicos, ambientais, raciais, entre outros.
Grupo de Estudos
Eliz Moura, jornalista (UFAL)
Sandra Pereira, jornalista (UFAL)
Antônio Carlos Rodrigues (UFBA)