O segredo das empresas familiares com mais de 30 anos? Um conselho consultivo forte
O crescimento sustentável e a longevidade das empresas familiares no Brasil estão diretamente relacionados à maturidade de sua gestão e a um fator primordial: à estruturação de um conselho consultivo eficiente.
Há aqueles que podem pensar que ter o apoio de um órgão para “orquestrar” as principais demandas e direcionar decisões seja “supérfluo”, mas adianto: Conselho consultivo não é luxo. É estrutura.
O conselho nas empresas familiares tem se mostrado como uma das peças centrais para que alcancem a longevidade, possam enfrentar sucessões familiares com êxito e continuamente busquem por inovação com responsabilidade.
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) trata o conselho consultivo como uma instância não obrigatória dentro da governança corporativa, mas que exerce papel estratégico fundamental, especialmente no caso de empresas de modalidade familiar em expansão.
O conselho consultivo é um órgão que, como o próprio nome sugere, atua de forma consultiva, ajudando a alta gestão e lideranças com análises, orientações e recomendações, ainda que não assuma responsabilidades legais como ocorre no conselho de administração.
Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras para alcançarem a longevidade empresarial, Carlos Moreira aborda sobre o conselho consultivo nas empresas familiares como fator decisivo no caso de negócios que ultrapassam a marca dos 30 anos no mercado.
Já adianto que o conselho consultivo está intimamente ligado à capacidade de adaptação, à profissionalização da gestão e à dissociação entre família, propriedade e administração. Vale ressaltar que quanto mais madura for a governança, mais claras são as decisões e mais preservado é o legado.
Conselho Consultivo nas empresas familiares – Imprescindível para a longevidade empresarial
Um levantamento do Family Business Institute aponta que apenas 30% das empresas familiares chegam à segunda geração, enquanto apenas 12% alcançam a terceira.
No Brasil, essa taxa é ainda mais crítica, segundo dados do IBGE e do Sebrae, que indicam que a maior parte das empresas não sobrevive além dos dez primeiros anos.
A escassez de práticas estruturadas de governança, a concentração de decisões em uma única liderança e a falta de um plano sucessório estruturado estão entre os principais fatores que comprometem a continuidade dos negócios familiares ao longo dos anos.
Nesse contexto, o conselho consultivo nas empresas familiares surge como uma solução viável e eficaz para empresas que desejam transitar do modelo de gestão centralizado, muitas vezes personificado na figura do fundador, para uma governança mais colaborativa, diversa e voltada para o futuro.
Além de auxiliar na profissionalização da gestão, o conselho consultivo:
- Amplia a visão estratégica do negócio;
- Ajuda a mitigar riscos e antecipar crises;
- Apoia processos sucessórios com maior previsibilidade;
- Fomenta a inovação com base em experiência e visão externa;
- Aproxima a empresa de padrões de governança que atraem investidores, parceiros e novos talentos.
Além disso, vale ressaltar que empresas que contam com conselhos consultivos ativos conseguem estabelecer objetivos mais claros e alinhar expectativas entre sócios, familiares e executivos, o que leva a um período de maior estabilidade para decisões de médio e longo prazo.
Por que empresas com mais de 30 anos têm conselhos mais atuantes?
Passar dos trinta anos de existência é, por si só, um indicativo de que a empresa soube enfrentar diferentes ciclos econômicos, mudanças tecnológicas e dinâmicas sociais.
Já escrevi sobre o desafio da transição de uma geração para outra no artigo Longevidade e sucessão contribuem para voos mais altos em empresas familiares, e o quanto ter o apoio especializado nesse momento é crucial.
É nesse momento que muitos negócios enfrentam desafios como:
- Falta de preparo da nova geração;
- Conflitos familiares que se refletem na gestão;
- Dificuldade em inovar sem comprometer a cultura do negócio;
- Perda de mercado para concorrentes mais ágeis.
Nesse estágio, torna-se evidente que a gestão baseada apenas na experiência passada já não é suficiente para garantir o futuro. É preciso estrutura, previsibilidade, troca de conhecimento e, principalmente, a capacidade de tomar decisões estratégicas com base em múltiplas perspectivas.
Por isso, empresas com mais de três décadas de existência tendem a estruturar seus conselhos de forma mais efetiva, transformando esse órgão em um instrumento vital de sustentabilidade e crescimento.
Exemplo de longevidade com governança: Grupo Jacto
Um caso emblemático de sucesso na aplicação de governança e estruturação de conselho é um dos cases que já mencionei, do Grupo Jacto, empresa familiar brasileira com mais de 70 anos de atuação no setor de máquinas agrícolas e soluções tecnológicas para o agronegócio.
A Jacto estruturou seu conselho consultivo nos anos 1990 e, com o amadurecimento da governança, passou a contar com um conselho de administração e consultivo, além de comitês e instâncias que integram familiares e executivos profissionais em um modelo coeso e sustentável. Essa transição permitiu à empresa:
- Garantir a continuidade do negócio ao longo de diferentes gerações;
- Ampliar sua atuação para mercados internacionais;
- Fortalecer seu posicionamento inovador no agronegócio.
O caso Jacto mostra que longevidade empresarial e governança estão interligadas, e que os conselhos (administrativo e consultivo), quando bem estruturados, não apenas preservam o legado, mas o projetam para o futuro.
Será que chegou o momento da sua empresa estruturar um conselho consultivo?
Não existe um momento único e ideal para criação do conselho consultivo, mas existem alguns sinais claros de quando a empresa está pronta ou necessita dessa estrutura.
Alguns deles são:
- A empresa atingiu um porte em que as decisões têm impacto significativo no patrimônio dos sócios;
- Há uma transição de gerações em curso ou prevista;
- Os executivos e líderes precisam de apoio para pensar o médio e longo prazo;
- Existem conflitos latentes entre família, gestão e propriedade;
- A empresa deseja atrair investidores ou parceiros estratégicos.
Conselho consultivo para fugir à regra da sobrevivência, e expandir continuamente no mercado
Empresas familiares que superam as três décadas de existência são exceções no cenário brasileiro. E, em sua maioria, essas organizações compartilham algo em comum: a compreensão de que governança não é burocracia, é estrutura. E estrutura não é custo, é investimento.
O conselho consultivo nas empresas familiares, quando bem implementado, é um dos pilares dessa estrutura. Ele fortalece a maturidade da gestão, promove um ambiente de decisões mais técnicas e prepara o negócio para navegar em cenários cada vez mais complexos e desafiadores.
Ao longo da minha jornada como conselheiro consultivo, tenho participado na prática da evolução de empresas familiares em um caminho de maior equilíbrio e crescimento sustentável, indo na contramão das estatísticas e consolidando histórias.
Tratar o conselho consultivo como um luxo é abrir mão de uma das ferramentas mais eficazes para garantir longevidade com responsabilidade.
Nas empresas familiares que querem seguir relevantes nas próximas gerações, o conselho consultivo deve deixar de ser exceção — e tornar-se parte da cultura. Concorda com essa reflexão?
Carlos Moreira - Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.