O recalque da privatização na política sergipana :: Por. Nélio Miguel Jr.

Jornalista Nélio Miguel Jr. - Foto: Arquivo Pessoal
Curioso é que, naquele momento, Déda e Rogério se apresentavam como vozes dissonantes dentro do próprio Partido dos Trabalhadores (PT), uma vez que nem mesmo a sigla havia compreendido ainda as novidades sugeridas em Sergipe. Foram taxados até por aliados como liberais, que estariam entregando os hospitais, os serviços laboratoriais, e até o Samu nas mãos da iniciativa privada. Difícil esquecer das discussões acaloradas entre o então secretário e os sindicatos que representam os diferentes serviços de saúde. Havia um pânico generalizado naquele momento, já que se dizia que os servidores seriam obrigados a optar por uma transferência de vínculo, saindo de estatutários para celetistas.
Hoje, 16 anos depois, como é de conhecimento geral, nenhum hospital ou serviço de saúde pública foi vendido em Sergipe, muito menos houve demissões em massa. As fundações seguem funcionando com as flexibilidades gerenciais do setor privado, e os serviços públicos atendendo a população.
O cidadão que acompanha, desde então, a história política de Sergipe sente, no mínimo, náuseas ao ouvir, agora, o aguerrido defensor das Fundações Estatais de Direito Privado, o autor do Projeto de Lei que criou, aos mesmos moldes, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), falar que o governador Fábio Mitidieri vai privatizar a saúde, precarizar relações trabalhistas e encolher salários do servidor público.
O que o atual senador tem deixado transparecer, contudo, é o seu total recalque com um projeto ousado e inovador, que são as Parcerias Público Estratégicas (PPE), projeto apresentado pelo Executivo Estadual e aprovado pela Alese na última quinta-feira, 20. Como gestor experiente, Rogério Carvalho sabe que o administrador público que trabalha pelo progresso não pode abrir mão da ajuda estratégica da iniciativa privada. Sabe o quanto é necessário a alguns serviços imprescindíveis da rede pública contar com as mesmas flexibilidades administrativas para contratar, comprar, e resolver situações com agilidade, sem perder de vista a economicidade e a responsabilidade do Estado.
Seu blefe é apenas uma forma, ultrapassada diga-se de passagem, de resgatar antigos fantasmas. Ou quem sabe, uma maneira ainda mimada de dizer que “a ideia só presta quando é minha!”