Aracaju (SE), 05 de dezembro de 2024
POR: Gabriel Damásio
Fonte: Asscom Unit
Em: 18/09/2024 às 16:00
Pub.: 19 de setembro de 2024

Pesquisa identifica casos de leishmaniose em cães através de amostras dos pelos

Estudo de iniciação científica também identificou ambientes com fatores de risco para a contaminação dos animais; o trabalho foi publicado em uma revista científica e premiado na edição recente do Prêmio João Ribeiro, da Fapitec

O biomédico Fábio Feitosa Silva Junior, autor da pesquisa - Foto: Divulgação

O biomédico Fábio Feitosa Silva Junior, autor da pesquisa - Foto: Divulgação

O rastreamento e a detecção de casos de leishmaniose visceral canina, doença também conhecida como calazar e que atinge principalmente os cães, foi tema de uma pesquisa de iniciação científica desenvolvida no âmbito do curso de Biomedicina da Universidade Tiradentes (Unit). O estudo do biomédico Fábio Feitosa Silva Junior, que concluiu o curso em meados deste ano, foi uma análise espacial de risco para a doença em áreas urbanas de Aracaju e de Propriá. Entre outras conclusões, ele indicou a possibilidade de se detectar a ocorrência de calazar a partir da análise de amostras dos pelos de cada animal, sem a necessidade de realizar exames de sangue. 

A pesquisa está associada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente (PSA/Unit), com participação da pesquisadora Natália Almeida Frota Santos (aluna de doutorado) e orientação do professor Rubens Riscala Madi, mais o apoio do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LDIP), ligado ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP). Ela foi tema de um artigo científico publicado no ano passado pela revista científica Brazilian Journal of Biology, editada pelo Instituto Internacional de Ecologia, e premiada na recente edição do Prêmio João Ribeiro de Divulgação Científica e Inovação Tecnológica, promovido pela Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (Fapitec).

Para a pesquisa, foram analisadas amostras de sangue e de pelos coletadas em 72 animais domésticos e em situação de rua que viviam em áreas como o povoado Areia Branca e os bairros Jabotiana, Inácio Barbosa, Palestina, Farolândia e Treze de Julho, na capital. As amostras foram analisadas com apoio de outras instituições, como o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/SE), o Laboratório de Parasitologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP), e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em Matão (SP). 

“Esse trabalho foi um marco no avanço da pesquisa, tendo em vista que conseguimos identificar alguns biomarcadores que atraem o vetor infectado que propaga a doença. Tendo esse entendimento, em estudos continuados poderemos identificar a presença da doença apenas com o pelo do cão, sem precisar coletar sangue e até mesmo criar soluções que sejam repelentes dos mesmos”, diz Fábio, acrescentando que os tutores dos animais também foram entrevistados durante a pesquisa. “Realizamos um levantamento dos fatores associados a infecção. Com isso, as autoridades poderão fazer trabalho educativo das populações, bem como tratamento sanitário das áreas de maior comprometimento.

Resultados

Das amostras coletadas, 13 tiveram diagnóstico positivo para a leishmaniose visceral canina, sendo sete em Aracaju e seis em Propriá. A doença provocada pelo parasita Leishmania, é transmitida por meio da picada do mosquito-palha e pode afetar não apenas os cães, mas também os humanos: segundo o Ministério da Saúde, a incidência média é de 3.500 novos casos por ano. 

Ainda de acordo com o estudo da Unit, parte dos bairros de Aracaju e Propriá possuem ambientes favoráveis à proliferação do vetor, pois são áreas em desenvolvimento urbano, com saneamento básico precário e vegetação extensa, terrenos baldios próximos e criação de outros animais. “Atualmente, o estado de Sergipe é um dos mais endêmicos para a leishmaniose visceral e a consequência disso seria tanto a parte do desmatamento, a expansão urbana para para áreas de Mata, e também a questão dos dos cães de rua”, afirma Feitosa. 

O biomédico, que hoje faz pós-graduação em Gestão em Saúde pela Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo (SP), conta que o convite para participar da pesquisa surgiu a partir da sua afinidade profissional com as áreas de Hematologia e Parasitologia, que são abrangidas pelos estudos sobre a doença. Ele comemora o recebimento do Prêmio João Ribeiro pela pesquisa e pretende continuar aprofundando seus estudos sobre o diagnóstico da leishmaniose e de outras doenças negligenciadas, com o objetivo de colaborar com a resolução de problemáticas populacionais. 

“Foi uma honra receber essa premiação, pois ela carrega com si o peso de mais de um ano de pesquisa, descobertas e da minha vitória sobre as dificuldades que tivemos. Esse momento nos mostra que todo o esforço no fim vale a pena, tanto com o reconhecimento, quanto com a ajuda ao próximo, nesse caso a população mais vulnerável”, afirma Feitosa.


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