Telas X crianças: psicóloga fala dos desafios e perigos dessa relação
A relação de telas e crianças é um assunto que gera muitas dúvidas e até mesmo polêmicas. Mas o fato é que em um mundo cada vez mais tecnológico é cada vez mais difícil blindar o público infantil de acessos às “telinhas” de celulares, tablets e da televisão. Porém, até que ponto esse contato é saudável para a saúde e o desenvolvimento infantil? Ele é importante e produtivo, mas também pode causar danos.
Telas X crianças: psicóloga fala dos desafios e perigos dessa relação - Foto: Assessoria de Comunicação
Para a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França, Marcela Teti, essa é uma questão difícil. “Muita gente acha que é fácil para as crianças viverem longe da tecnologia. Na atualidade, se o cotidiano do adulto está preenchido com tecnologia e smartphones, com as crianças não seria diferente”, afirmou.
De acordo com a profissional, a primeira coisa importante a fazer é aceitar que as crianças gostam das telas e das tecnologias. “Pode parecer esquisito dizer, mas esta é a primeira decisão acertada a fazer. Imaginar como muitos adultos imaginam, que as crianças de hoje são como as crianças de 40 anos atrás, é improdutivo e às vezes nada inteligente. Se você não gostava de ficar na frente da TV assistindo ao show da Xuxa ou ao Sérgio Malandro, seu filho certamente vai adorar Pepa Pig, Ladybug, Minecraft, Mundo Bita, Lucas Neto, e uma centena de programas de entretenimento que você jamais pensou ser possível na sua infância. Enquanto a TV brasileira só tinha um ou dois programas importantes disponíveis em uma ou duas televisões para as crianças no final do século XX, hoje são milhões de programas ao mesmo tempo, ao alcance da criança através do wi-fi”, destacou.
Após entender que a realidade da infância de hoje é completamente diferente da realidade da infância de antigamente, é possível se pensar em algumas soluções. A psicóloga ressalta que a primeira coisa que é importante entender é que os adultos são os cuidadores das crianças, logo, são eles que mandam. Se você achar que é necessário ficar sem celular, é importante deixar sem, ou então, pode negociar com seu filho.
“Ofereça à criança algo tão interessante quanto o celular em troca. Não diga a ela: “deixe o celular e venha me ajudar a limpar a casa”. Por mais que isso pareça correto, não é nada divertido, logo, a criança não vai deixar o celular. Fazer o que é certo, pode parecer importante para um adulto, mas para uma criança, se o certo dá mais trabalho, ela fica com o errado. Assim, se for fazer negociação, opte por algo que interesse à criança”, explicou.
Em última instância, se a criança não trocar o celular por outra atividade, sente-se ao lado dela e passe algum tempo juntos assistindo ao programa que a interessa. Conheça seu filho ou sua filha para entender o que tanto a cativa. Às vezes, afeto é uma grande moeda de troca. O mundo pode mudar, mas os seres humanos permanecem constantes por mais tempo. “Se a criança está no celular, é muito provável que a família não dê atenção que ela precisa. Para as crianças, os adultos são super-heróis, logo se recebem atenção de seus ídolos, o mundo pára e consequentemente o celular deixa de ser interessante”, relatou.
Mecanismo de recompensa
Segundo Marcela Teti, um dos principais desafios para as famílias é a substituição do mecanismo de recompensa no cérebro das crianças que o smartphone cria. O cérebro de todos os indivíduos é dotado de um mecanismo de recompensa. Você faz algo, se dedica a uma ação, e quando concluída, são liberados neurotransmissores, como dopamina, que garantem a satisfação pela ação desenvolvida.
“O smartphone produz prazer e sensação de bem-estar a maior parte do tempo. Logo, sem fazer nada a criança fica satisfeita com o que ver e dopamina é liberada no corpo dela. Após algum tempo, a criança começa a não se interessar por fazer outra atividade, visto que mesmo a brincadeira mais divertida, pode não produzir o prazer (a quantidade de dopamina necessária) que a criança espera. Com pouco tempo, um vício é criado e consequentemente a dependência neuroquímica do aparelho eletrônico”, concluiu.