Aracaju (SE), 04 de dezembro de 2024
POR: José Lima Santana - jlsantana@bol.com.br
Fonte: José Lima Santana
Pub.: 29 de novembro de 2015

O câncer, a dor, as lágrimas... :: Por José Lima Santana

José Lima Santana(*)  jlsantana@bol.com.br

Todos devem compreender que a luta contra o câncer deve ser diuturna. Aliás, a luta por serviços de saúde de qualidade, especialmente dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser contínua. Sem trégua.
Existem, hoje, no país, mais de 270 hospitais habilitados no tratamento do câncer. Todos os Estados brasileiros têm pelo menos um hospital habilitado em oncologia, onde o paciente de câncer encontrará desde um simples exame até cirurgias mais complexas. Trata-se da rede credenciada para o atendimento aos portadores do câncer na rede do SUS. Para ser habilitado, o hospital não precisa tratar exclusivamente os pacientes dessa temível e terrível doença. É o que ocorre em Sergipe, por exemplo, onde ainda não há um hospital exclusivo para tratar os pacientes com câncer. Aliás, muitos Estados não possuem hospitais com essa exclusividade de tratamento. Os custos de manutenção são muito altos. Os recursos do SUS são limitados.

Maquete eletrnica do Hospital do Cncer (Foto: 24.jan.2014/Portal Infonet)

Maquete eletrnica do Hospital do Cncer (Foto: 24.jan.2014/Portal Infonet)

Quando assumimos a titularidade da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em 31 de dezembro de 2004, recebemos, algum tempo depois, para uma conversa, o Dr. Carlos Anselmo, médico oncologista do Hospital Governador João Alves Filho, transformado, simplesmente, em HUSE, sabe-se lá por quê. O Dr. Anselmo apresentou-nos a planta baixa de um Hospital contra o Câncer. Havia, inclusive, uma planta anterior, vinda da década de 1980. Tínhamos ouvido falar nessas plantas e solicitamos a sua presença. Ele prontamente nos atendeu. Naquela época, técnicos da área da saúde dividiam-se: uns eram a favor da construção do hospital exclusivo e outros eram contra, defendendo, estes, a tese da necessidade de melhoria e a ampliação dos serviços então prestados no setor de oncologia do Hospital acima citado. De qualquer forma, não havia dinheiro para a construção do hospital. O que havia era apenas a apresentação de uma emenda parlamentar ao OGU (Orçamento Geral da União) de R$ 2 milhões, destinada por um deputado federal. Oposicionista, dificilmente a emenda seria liberada pelo governo federal. E não foi mesmo. Aliás, colocar emendas individuais ou de bancada é sempre fácil. Conseguir a liberação é que é difícil. As emendas de bancada, então, são dificílimas. Há parlamentares que deitam falação quando colocam emendas. Isso não quer dizer dinheiro no caixa do Estado ou do Município a ser beneficiado, como alguns pensam. Longe disso.
Precisamos de um hospital contra o câncer? Não será fácil construí-lo, equipá-lo, credenciá-lo junto ao Ministério da Saúde e mantê-lo de forma adequada. Porém, não se deve deixar de tentar, de levar à frente a sua construção. É evidente que não teremos um hospital do porte do Sírio Libanês ou do Einstein, ambos em São Paulo. Seria uma rasgada utopia pensar que teríamos. Por outro lado, o câncer aniquila pessoas em qualquer hospital, por melhor que ele seja. Inclusive, políticos e pessoas abastadas vão a óbito em grandes e reconhecidos hospitais, como nós sabemos. É certo, contudo, que oferecer um bom serviço no tratamento oncológico em Sergipe é preciso. É humano. É urgente.


Na sexta-feira (20), o governador Jackson Barreto, que já viu o câncer atacar na própria família, mostrou-se emocionado ao lado do ministro da Saúde, Marcelo Costa e Castro, em face da instalação do segundo aparelho de radioterapia no Hospital João Alves Filho, prevista para o segundo semestre do próximo ano, após vários anos desde a instalação do primeiro aparelho. Nesses anos, a doença avançou e devastou. Ninguém fez nada? Ninguém construiu o hospital do câncer? Ninguém se comoveu com os pacientes acometidos por essa malfadada doença? Ninguém se importou com o sofrimento, com a dor dos pacientes? Com o desespero e as lágrimas dos familiares? Quantos governadores passaram nesses anos todos, desde a instalação do primeiro aparelho? Todos foram insensíveis? Ouço com pesar o que dizem certos políticos e pessoas outras, ao se referir à construção do hospital contra o câncer, como se isso, por si só, resolvesse os problemas advindos dessa doença. Entretanto, o que dói é saber que certas pessoas, políticos ou não, não passam de oportunistas, mesmo já tendo, algumas delas, a oportunidade de lançarem as mãos em prol de amenizar o sofrimento dos atingidos pelo câncer. Falar é fácil.


A possibilidade de mais um aparelho de radioterapia (acelerador linear) em funcionamento em Sergipe deve ser recebida com alívio e esperança. Outro desses aparelhos deverá ser cedido ao Hospital de Cirurgia. Não é tudo o que queremos e precisamos. Pode até ser apenas um arranjo, mas é algo a ser celebrado em nome dos que sofrem e precisam de alento. Logo, o governo do Estado tem, sim, que comemorar. E tem, igualmente, que continuar despendendo todos os esforços possíveis para que tenhamos um tratamento ampliado e melhorado. Que isso não demore. E que tudo se faça na conformidade legal e técnica. Esperamos que o governador Jackson Barreto esteja atento a isso.
É preciso lembrar que, embora ainda não tenhamos um hospital exclusivo contra o câncer, a ala de oncologia do Hospital João Alves Filho pode prestar um serviço ainda mais adequado nessa área. As pessoas não conhecem e, portanto, não reconhecem os serviços relevantes prestados por esse hospital na oncologia, no trauma, nas questões relativas aos queimados etc. Normalmente, as pessoas voltam-se mais para a sempre complicada porta de entrada da urgência e emergência. Os serviços contra o câncer precisam melhorar e ser ampliados? Decerto que sim. Disso ninguém duvida. Esperamos isso. Queremos isso. Precisamos disso.
Todo esforço que se possa fazer para mais e melhor atender aos pacientes com câncer há de ser sempre válido. Dizer o contrário é não dizer nada.
Prestar melhores serviços. Amenizar a dor. Reduzir as lágrimas. Minorar a sensação de impotência das pessoas diante do quadro gravoso do ente querido que, aos poucos, vai-se embora. Mas, acima, de tudo, lutar, lutar muito, para a recuperação da saúde de quem se ama.

 

(*) Advogado, professor da UFS, membro da ASL e do IHGSE

Publicado no Jornal da Cidade, edição de 29 de novembro de 2015. Publicação neste site autorizada pelo autor.

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