Reserva muscular garante mais eficácia na recuperação de pacientes
Professor de Medicina explica que a massa muscular funciona como uma reserva de energia e proteínas para garantir o funcionamento do corpo, ajudando na recuperação de pacientes internados
O professor Carlos Eduardo de Andrade, dos cursos de Medicina e Fisioterapia da Universidade Tiradentes - Foto: Acervo pessoal
Um dos elementos mais importantes no processo de recuperação de um paciente que passa por internações, cirurgias e tratamentos de lesões e doenças, está nos músculos, que muitas vezes são associados à força e à beleza corporal. Muito além destas características, eles cumprem várias funções essenciais para garantir a segurança e o bom funcionamento do corpo humano: sustentam e protegem os ossos e órgãos internos, articulam os movimentos, controlam a temperatura interna e guardam consigo uma reserva de energia, proteínas, anticorpos e outras substâncias, que auxilia muito o processo de convalescença de cada paciente.
A literatura médica estima que o corpo humano possui cerca de 650 músculos esqueléticos, isto é, ligados diretamente ao esqueleto. Existem ainda os que dão suporte ao funcionamento dos próprios órgãos internos. “O músculo também tem como função a movimentação de órgãos, como, por exemplo, as paredes intestinais. Nós temos músculos também na parede uterina, nas trompas, e até no olho, pois para que se faça a contração e a dilatação da pupila, são os músculos que fazem isso”, afirma o professor Carlos Eduardo de Andrade, dos cursos de Medicina e Fisioterapia da Universidade Tiradentes (Unit).
Ele explica que, além de garantir a proteção e a sustentação do corpo, a estrutura muscular colabora com o metabolismo, gerando calor e energia para o funcionamento dos órgãos e sistemas. É o que serve de apoio para o processo de recuperação dos que passam por cirurgias ou tratamentos contra lesões e infecções. A própria literatura médica e diversas pesquisas pelo mundo apontam que, quanto melhor e maior a musculatura de um paciente, melhor ele tende a se recuperar com mais rapidez e eficácia, mesmo que seu estado de saúde seja considerado grave.
“Quando você tem massa muscular, tem uma reserva proteica que pode ser utilizada para combater os diferentes tipos de doenças ou convalescenças, como queimaduras e coisas do tipo. Se você tiver uma reserva grande, você tem maior facilidade de recuperação. Se uma pessoa tem uma massa muscular baixa, ela não tem reserva proteica para que o corpo possa utilizar”, diz o professor, explicando que, quando uma pessoa está doente ou internada, a tendência é de que o corpo utilize as reservas energéticas que estejam à disposição, principalmente se ela não está conseguindo se alimentar ou fazer a digestão. “Aí, o corpo começa a fazer uma autofagia, que no caso é usar as próprias reservas e tecidos para combater aquela infecção que está ali”, acrescenta.
Recuperação
O processo de recuperação e fortalecimento da massa muscular passa pela manutenção de uma rotina de exercícios físicos, que aumentam a massa muscular e melhoram o aporte sanguíneo de oxigênio”. A musculação é considerada como uma das melhores práticas neste sentido, por ser de maior intensidade e curta duração. E ela leva muitas pessoas a praticarem exercícios em academias. Uma pesquisa feita em 2015 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em parceria com o Ministério do Esporte (MEsp) mostrou que 38,8 milhões de pessoas praticavam esportes regularmente. Desse total, 4,7 milhões (16,8%) disseram praticar academia ou fitness e outros 2 milhões (7,2%) disseram fazer culturismo ou musculação, em uma média de quatro vezes por semana.
Carlos Eduardo explica que os exercícios musculares estimulam as chamadas “fibras brancas” ou “fibras tipo 2”, um dos que compõem o tecido muscular. tratam-se de uma fibra branca, pouco oxidativa e glicolítica, isto é, que tem potencial de hipertrofia. Isso explica porque os músculos criam “volume” depois de um tempo de musculação. Por outro lado, existem as chamadas “fibras vermelhas” ou “fibras tipo 1”, que são consideradas de resistência e têm uma grande quantidade de mitocôndrias que favorecem a respiração celular. Elas são estimuladas principalmente por treinamentos de aeróbica ou corrida, no qual os praticantes têm uma aparência magra ou franzina, mas são resistentes a longos períodos de atividade física.
O professor alerta que a saúde do músculo não pode ser medida pelo seu volume, mas sim pela sua capacidade de força e resistência. Ou seja: uma pessoa com massa muscular mais avantajada nem sempre é mais saudável do que a com massa um pouco menor. “Claro que em uma pessoa que tem um volume muscular maior, fazendo o mesmo tipo específico de treinamento, a tendência é que ela tenha uma capacidade maior, um músculo mais saudável. Mas isso depende da fibra que está sendo estimulada, se são as oxidativas, relacionadas à resistência e que não têm volume, ou as glicolíticas, que têm volume, mas a resistência mais baixa”, conclui Eduardo, destacando ainda a importância de, em paralelo, manter uma alimentação balanceada, que vai fornecer elementos nutricionais de reposição das proteínas, vitaminas e outras substâncias para o corpo.