Inquietações :: Por José Lima Santana
José Lima Santana*

Eu ouvi de um padre esta frase inquietante: “A Igreja em Aracaju está minguando”. Será? Ele quis referir-se à Igreja em toda a Arquidiocese. É deveras preocupante a observação do jovem padre. Jovem e lúcido, ele é um dos que tem se debruçado sobre a situação pela qual vem passando a nossa Arquidiocese, nos últimos anos.
A Igreja universal, desde os seus primórdios, ainda no tempo dos apóstolos, vive, alternadamente, momentos de clamaria e de turbulência, talvez por ser, em tese, uma instituição complexa, formada por pessoas das mais diversas formas de pensamento e modos de ação.
Analisando a História da Igreja, sob qualquer ângulo ou a partir da qualquer de seus historiadores, podemos encontrar momentos de tensões, de arrebatamentos, de inércia, de devaneios etc. Tudo por conta da complexidade que a envolve.
Da Cúria Romana à mais modesta Paróquia, as lutas intestinas têm arruinado as ações pastorais, como Jesus Cristo exortou os seus apóstolos: “Ide pelo mundo inteiro, anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Essa exortação do Filho Unigênito de Deus, após a sua ressurreição e logo antes de sua ascensão aos céus, é um encorajamento à evangelização e uma maneira de disseminação da Boa Nova que Ele veio anunciar. A Igreja Católica interpreta isto como uma missão para levar a fé e a mensagem de salvação a todos os povos.
Quantos (as), ao longo de dois milênios e um pouquinho mais, deram o melhor de suas vidas para o anúncio do Evangelho! E quantos têm desfigurado esse anúncio! Em todos os lugares. Ontem e hoje.
Há situações terríveis acontecendo pelo mundo afora, dentro da Igreja. E vem crescendo de forma avassaladora as distorções, muitas vezes camufladas de “devoções” e “exercícios espirituais” disformes, que não se coadunam com a Palavra, com a Tradição Apostólica e nem com o Magistério da Igreja. São devocionais tiradas de cabeças de bispos, padres, diáconos, freis, freias e leigos, que se autoproclamam servidores de Cristo, mas, no fundo, muitos deles são servidores da autopromoção, do delírio espiritual e do dinheiro fácil. Não tenho medo de dizer isto.
Eu sou um padre de pouco mais de oito anos de ordenação, mas estou servindo à Igreja desde janeiro de 1976, quando fundei o grupo de jovens da minha Paróquia de origem, ao lado de duas jovens e uma religiosa. Cerrei fileiras na Pastoral da Juventude, na Arquidiocese, fazendo parte da coordenação do TLC – Treinamento de Liderança Cristã, de abril de 1976 a maio de 1982, trabalhando com quarenta e um grupos de jovens, na capital e no interior. Tornei-me ministro da Eucaristia e da Palavra, em abril de 1981.
Portanto, eu venho da Igreja aracajuana do tempo de Dom Luciano Duarte, embora o TLC fosse ligado ao bispo auxiliar, Dom Edvaldo Gonçalves do Amaral, hoje arcebispo emérito de Maceió. Havia comando firme.
Têm pululado por todo o Brasil as chamadas novas comunidades, com os mais diversos tipos de “carismas”. De carismas? Alguns, nem tanto. Embora acompanhadas ou apadrinhadas por padres, que fazem o que bem querem e entendem, algumas dessas ditas novas comunidades parecem apresentar “carismas” ou modos estranhos de ação, inclusive com reuniões, retiros, acampamentos, ou seja lá o que for, um tanto quanto “em segredo”, com expressas admoestações para que os seus participantes mantenham silêncio sobre as “experiências” vivenciadas.
Por aqui, essas comunidades têm agido também. Não sei como estão se resolvendo, mas, nem sempre tenho boas notícias. Não posso, contudo, aferir isso. Cabe, pois, ao nosso arcebispo, devidamente experimentado na missão episcopal, determinar, na forma do que dispõem a respeito disso o Código de Direito Canônico a as normas da Igreja, advindas da Santa Sé e da CNBB, a averiguação de tudo o que se passa. Creio que o senhor arcebispo tem analisado tudo quanto diz respeito à Arquidiocese, nesses seus onze meses de episcopado entre nós. Que Deus o ajude e o ilumine nas atitudes que deverá tomar, ou continuar tomando. Decerto, se for o caso, não lhe faltará firmeza em agir.
Certo mesmo, é que não são poucas as inquietações.