O Brasil está pronto para ter moeda digital? :: Por Marcio Rocha
Causou um grande rebuliço no universo da economia nacional, a informação do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmando que o Brasil está próximo de ter uma moeda digital. Em suas palavras, Guedes foi enfático ao dizer que “o Brasil terá a moeda digital. O Brasil está à frente de muitos países”. A notícia por si é muito importante para o nosso mercado, para o cenário econômico brasileiro, para as pessoas. Entretanto, será que estamos prontos para ter uma moeda eletrônica para uso das pessoas?
Sendo um país de dimensões continentais, o Brasil possui uma grande área que tem má qualidade de acesso à internet, bem como mais de 47 milhões de brasileiros não possuem acesso à rede mundial de comunicação. De acordo com o Comitê Gestor da Internet (CGI.br), 25% da população são pessoas consideradas excluídas digitais. Então, um a cada quatro brasileiros não possui acesso à internet. Isso é uma barreira que precisa ser vencida, para que a moeda digital almejada pelo Governo Federal se torne uma realidade. Fatores como dificuldade de acesso a sinal de rede, preço pela compra do serviço e localização geográfica inadequada, como áreas rurais, são preponderantes para essa dificuldade dessa grande massa de pessoas acessarem à rede.
Outro ponto que deve ser considerado é a quantidade de brasileiros que não possuem acesso aos serviços bancários. Quase um quarto da população, 45 milhões de pessoas também enfrentam essa dificuldade. Os desbancarizados são pessoas que movimentam cerca de 800 bilhões de reais por ano, mas não possuem conta em banco, ou não usam esses serviços há mais de seis meses, segundo dados do IBGE. Essa parcela da população, se não manipula nenhum serviço bancário, como terá acesso à moeda digital? A resposta é simples, e ao mesmo tempo complexa. Pois, uma solução simples para isso foi a criação de contas para o pagamento do saque emergencial de FGTS e Auxílio Emergencial, a Poupança Social Digital. Foram mais de 120 milhões de contas criadas para esse pagamento, o que já coloca a atividade da Caixa Econômica Federal como o maior banco digital do mundo, pela quantidade de correntistas. Entretanto, os problemas de acesso relatados pelas pessoas com dificuldades de compreensão e manejo de dispositivos eletrônicos como smartphones, a “fila virtual”, uma coisa que foi inventada no Brasil, devido à demora para o atendimento e as mesmas dificuldades de acesso à internet, elevam a complexidade desse serviço. Além da segurança da informação, visto que o brasileiro é um dos povos mais atacado por hackers e que mais sofre golpes bancários no mundo.
Até a segurança pública deve ser levada em questão. Uma moeda digital será manipulada em aplicativos de bancos que ficam em telefones celulares. É bem verdade que o Brasil tem 220 milhões de celulares ativos, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas em um país no qual 63 celulares são roubados por hora segundo, sendo mais de 551 mil aparelhos subtraídos por ano, o risco de pessoas perderem recursos com a moeda digital movimentada nas contas em seus aparelhos, é muito alto. Isso sem contar a falta de experiência com o novo sistema de pagamentos, o PIX, que já é objeto para golpistas enganarem milhares de pessoas. Para isso também conta a questão de cultura digital do brasileiro, que é um povo imaturo no que diz respeito à comunicação via rede mundial. Haja vista, o comportamento do brasileiro nas redes sociais, acreditando em tudo que passa pela tela e caindo em vários tipos de golpes diferentes.
Tecnologicamente, temos plenas condições de termos uma moeda digital, temos o maior banco digital do mundo e isso dá uma larga vantagem para o intento de Guedes. Mesmo com todos esses problemas, somos um povo com alto índice de avanço em termos de tecnologia e inovação, o que anima quando se trata da ideia de ganharmos mais espaço no contexto econômico mundial. Contudo, o “Real Digital” é uma realidade que estará distante dos brasileiros, ao menos nesse momento em que ainda é necessário fazer a população ter mais proteção nas ruas, capacidade para entender que o mundo virtual não se resume às redes sociais, e infraestrutura inadequada para provimento do serviço de internet para as pessoas.