Aracaju (SE), 04 de dezembro de 2024
POR: Marcio Rocha
Fonte: Marcio Rocha
Em: 21/05/2020 às 07:30
Pub.: 22 de maio de 2020

O drama dos desempregados forçados :: Por Marcio Rocha

Marcio Rocha (Foto: Arquivo pessoal)

Marcio Rocha (Foto: Arquivo pessoal)

O período de isolamento social e a proibição de exercício das atividades econômicas estão deixando muitas pessoas sem dormir nesses dias de pandemia, pois muitas famílias estão sem conseguir se sustentar por causa dos problemas financeiros decorrentes da falta de receita nas empresas e nos bolsos, principalmente dos microempreendedores individuais. Ao longo desse período, tenho conversado bastante com pessoas que vêm pedir-me orientação acerca do que fazer para conseguir matar a fome dos seus filhos e pagar as suas contas. O drama está atingindo um número cada vez maior de pessoas, principalmente aquelas que não possuíam reservas para enfrentar uma situação como essa, que aconteceu de forma súbita, pegando a todos desprevenidos, forçando-lhes a deixar de trabalhar. Veja um pouco das conversas que as pessoas têm comigo. Você lerá somente o diálogo, pois não tem cabimento expor as pessoas que estão sofrendo por conta das imposições do decreto que impede as pessoas de trabalharem.

Trabalhadora do segmento de festas infantis:
- Eu não sei mais o que fazer. Tanto eu, quanto meus colegas que trabalham com festas e eventos estamos sofrendo muito. Tem muitos que não tem nem comida em casa mais. Peça ao pessoal do Sesc para doar alimentos para a gente, pois estamos necessitados.
- Não está sendo fácil e são mais de 150 famílias que eu conheço que dependem diretamente do seu trabalho e hoje alguns estão sequer podendo pagar as contas da casa. Existem casos de pessoas que estão cozinhando com álcool e lenha, por não ter dinheiro para sequer comprar um botijão de gás (enviou-me uma foto de uma panela sobre um fogareiro de tijolos.

Trabalhador do segmento de beleza:
- Não posso trabalhar em meu negócio, que é pequeno e mesmo assim sustentava cinco famílias. Minha equipe está em situação complicada e muitos não conseguem nem comprar alimentos. Tá muito difícil viver com esse decreto que jogou as pessoas no desemprego. É isso que eu estou: desempregado. Tô tendo que atender meus clientes em casa, porque não me permitem trabalhar. Nessa semana, eu estava pegando meu equipamento na barbearia e uma equipe da Prefeitura esteve lá e me autuou, mesmo eu estando sozinho e baixando a porta com minhas tesouras e a máquina na mão. Tenho três filhos e preciso alimentar eles. Esse auxílio de 600 reais só me permite escolher o que vou fazer, pagar duas contas ou comprar comida, porque os dois não dá.

Vendedor ambulante:
- Você conhece minha banca há quantos anos? Pois é, eu sempre vivi disso. Não sei fazer outra coisa que não seja vender. Não se vende doces pelas redes sociais ou pela internet. Tenho aluguel pra pagar, e já tem dois meses atrasados. Como vou fazer?

Professor de artes marciais de um bairro da periferia:
- Veja essa foto (me envia uma foto da geladeira somente com duas garrafas de água). Quem em sã consciência consegue viver assim, meu amigo? Por favor, tente convencer o governador a deixar a gente trabalhar. O servidor público está em casa recebendo salário, mas eu e milhares de outras pessoas não. Eu dependo da minha academia para poder me sustentar, manter minha família e pagar a pensão de meus filhos. É justo que isso esteja acontecendo e pessoas inocentes estejam sofrendo? Por favor, veja com o pessoal da Fecomércio para que possa nos ajudar.

Vendedor do varejo e motorista de aplicativo:
- Marcio, eu não sei mais o que fazer. Ficar me humilhando para pedir ajuda aos outros não é nada bom. Estou triste, depressivo e pensando em suicídio (dei o número de apoio psicossocial da Prefeitura para ele). A loja que trabalho demitiu 46 vendedores, eu ainda estou com o contrato suspenso, mas só me paga um salário mínimo. Todo mundo sabe que os vendedores ganham mais com comissão que com salário fixo e isso tá sendo muito ruim. No aplicativo, eu fazia às vezes 130, 150 livres por dia. Hoje estou fazendo 20 reais, isso não paga nem o combustível consumido, mas se eu parar vou pirar de vez.

Separei somente cinco relatos dos tantos que recebi. Às vezes, as pessoas acham que nós, jornalistas, somos super-heróis e temos como mudar a consciência dos administradores públicos que vivem uma realidade diversa da maioria esmagadora das pessoas. Nós tentamos!

O entendimento que tenho acerca disso é que há sim a possibilidade de permissão da retomada das atividades econômicas. Até porque, o aparelho público não terá condições de se manter com a baixa receita arrecadada e uma nova categoria poderá viver esse drama em suas casas: os funcionários públicos. Em um curto prazo, não haverá mais condição de prefeituras e Estado manterem as folhas de pagamento sem que parcelem novamente os salários, ou até mesmo corram o risco de atrasá-los.

É necessário que essa situação não seja prolongada por muito tempo, já são mais de dois meses com esse sofrimento vivido pelas famílias e a ausência das atividades econômicas prejudica sobremaneira a todas as pessoas, porque o encadeamento da economia já está severamente prejudicado sem os recursos que essas pessoas que estão sem trabalhar deixaram de injetar, principalmente no varejo de vizinhança. Mercearias e minimercados também apontam queda no seu volume de vendas. O que no meu entendimento é um indicador que as pessoas estão no limite da contenção de despesas de forma involuntária, por não conseguirem ter renda proveniente do trabalho para se manter.

A economia está complicada, mas dá pra descomplicar, permitindo que as pessoas voltem a trabalhar de modo gradativo. É necessário diálogo entre o setor produtivo e o poder público para encontrar a melhor solução.

*As pessoas dos relatos receberam uma cesta básica para poder diminuir esse sofrimento. As doações foram do Mesa Brasil Sesc e do Sindicato dos Cabeleireiros.


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