A culpa do aumento dos casos de COVID-19 é do comércio? :: Por Marcio Rocha
Márcio Rocha (Foto: Arquivo pessoal)
O isolamento social é uma prática de que deve realmente ser adotada para evitar a elevação do contágio do coronavírus, uma grande verdade. Entretanto, por quanto tempo isso irá durar? Quanto mais o isolamento se estender, maior será o tempo de recuperação da doença para toda a sociedade. E se é pra seguir o isolamento social, porque é que estamos tendo aumento exponencial nos casos, que crescem em progressão geométrica? Simples: As pessoas não estão obedecendo. E isso é cada vez mais claro nas redes sociais, que mostram fotos de pessoas farreando, bebendo, indo à praia, com alguns casos ironizando a doença, dizendo ser uma “gripezinha”. Ironicamente essas mesmas pessoas pregam o #FicaEmCasa... As pessoas se mostram contraditórias ao dizerem uma coisa e fazerem outra completamente oposta. E essas mesmas pessoas que pedem o isolamento social são aquelas que dizem que o “Zé” tem que trabalhar para poder atender os pedidos dela, os seus desejos e servir-lhes. Então a pessoa pode ficar em casa, mas o “Zé” não. O pobre tem que se arriscar. A contradição é latente, pois o argumento do isolamento social é válido para proteção da população.
Já as pessoas que defendem a abertura das atividades econômicas têm como base as dificuldades que as famílias e empresas estão vivendo por conta da ausência de funcionamento dos negócios. O pior é que isso é verdade, pois cerca de 70 mil sergipanos estão sem trabalhar, muitos desempregados por demissão, outros desempregados involuntariamente, aumentando o contingente de pessoas em situação crítica, sem conseguir se alimentar e pagar suas contas mensais. Os autônomos e microempreendedores individuais (MEI) são os que mais sofrem com isso, pois dependem diretamente do que ganham no dia-a-dia para poder sobreviver e sustentar suas famílias. Muitos estão recebendo o auxílio mensal de R$ 600 para ajudar a se manter. Mas será que esses seiscentos reais conseguem manter uma família nas suas necessidades básicas? Outros trabalhadores estão com os contratos de trabalho suspensos, uma medida importante para impedir as demissões. Mas será que todos terão essa oportunidade? As empresas estão tendo acesso a isso com facilidade? Não sei precisar acerca do tema. Entretanto, o que tenho visto são empresas fechando por não ter como se sustentar e manter seus trabalhadores. Tenho visto pessoas pedindo comida por não ter salários para poder se manter. Tenho visto pessoas dando entrada em hospitais por tentativas de suicídio por não saber como conduzir seus negócios ou alimentar seus filhos. Não está sendo fácil... e isso é muito duro. As atividades econômicas precisam ser retomadas para afastar a sombra do desemprego e a realidade da fome em Sergipe. Retomando as atividades econômicas, dos 70 mil sergipanos que estão sem trabalhar, mais de 50 mil voltarão imediatamente, o que devolverá a esperança de dias melhores.
Estão culpando o comércio pelo aumento dos casos de COVID-19 no estado. Será isso mesmo? Ou isso é culpa da ineficiência das autoridades, começando pelo presidente da república, que demorou a agir para conter a entrada do vírus no Brasil? Os grandes centros de contágio e mortandade da doença são justamente as cidades com maior recepção de voos internacionais, principalmente da China. Manaus, como disse o ex-ministro Osmar Terra, é uma cidade que recebe muitos chineses, que são “sócios” da Zona Franca. São Paulo é um grande centro internacional de negócios e coração da economia do país. O Rio de Janeiro é a porta de entrada do Brasil para o mundo. Tudo isso influiu na contaminação e disseminação da doença pelo país. Sergipe é um estado que depende do comércio e serviços para manter mais de 500 mil trabalhadores, entre celetistas e autônomos. Isso deve ser visto e pensado de modo que possa se atender os anseios das pessoas em poderem voltar a trabalhar, o estado a voltar a arrecadar impostos e a vida voltar ao cotidiano quase normal. Afinal de contas, nunca mais seremos os mesmos depois disso.
A culpa do crescimento do contágio do coronavírus no estado não é do comércio. Desde que o decreto foi expedido, tínhamos poucos casos e poucas mortes. 50 dias depois, temos uma grande quantidade de casos e elevação nas mortes provocadas pela doença. Mas onde se pode culpar o comércio por isso, já que esteve fechado por todo esse tempo? Culpar a atividade econômica pelo que foi provocado pela irresponsabilidade das pessoas em achar que o isolamento social são grandes férias coletivas é um contrassenso. As aglomerações de pessoas nas ruas continuaram mesmo com as lojas fechadas, as festas e farras continuaram, as pessoas continuaram saindo “sozinhas” para algum lugar e um “sozinho” que se soma com outro “sozinho”, forma-se uma aglomeração nos locais públicos. Esses são os reais culpados pela proliferação da doença em Sergipe e em todo o Brasil.
Vale ressaltar que a taxa de isolamento social em Sergipe, de acordo com a startup brasileira In Loco, é de 39,8%. Ou seja, mais de 60% da população não está ajudando em absolutamente nada no combate ao coronavírus, a não ser em ir às ruas para ajudar na disseminação da doença. E isso coloca Sergipe num desonroso posto de 5º estado mais desobediente do país. Nessa semana, nossa opinião veio com muitas perguntas. Cabe a cada leitor responder para si mesmo. Todavia, vou deixar mais duas perguntas para autorresposta: Você está fazendo sua parte para diminuir o contágio do coronavírus de verdade? O comércio, que nem abriu é realmente o culpado pela transmissão da doença? Se puder fique em casa. Mas se precisar, entenda que pessoas precisam garantir seu sustento trabalhando e use seus serviços ou comprem em seus negócios.