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Aracaju (SE), 30 de janeiro de 2025
POR: Dom Josafá Menezes da Silva
Fonte: Dom Josafá Menezes da Silva
Em: 24/01/2025 às 13:47
Pub.: 24 de janeiro de 2025

Dom Luciano Cabral Duarte: 100 anos :: Por Dom Josafá Menezes da Silva

Dom Josafá Menezes da Silva*

Dom Josafá Menezes da Silva - Foto: Reprodução/Arquidiocese de Vitória da Conquista (BA)

A programação do Centenário do Nascimento de Dom Luciano José Cabral Duarte, segundo Arcebispo Metropolitano de Aracaju, contém eventos variados para honrar a magnitude de sua figura. No dia 20, tivemos a abertura dos festejos na sessão especial na Academia Sergipana de Letras, onde Dom Luciano ocupou a cadeira nº 18.     

No dia 21, na Igreja do Santíssimo Salvador, houve a celebração da Santa Missa. A diversidade da programação quer recolher a riqueza de sua figura: filósofo, comunicador, educador, membro dos Conselhos Estadual e Federal de Educação, encarregado de dirigir o processo de criação da UFS, Arcebispo Metropolitano. No entanto, ele sempre afirmou: “a opção fundamental de minha vida é o sacerdócio [...] Se eu fosse reitor, não me dedicaria às coisas da Igreja, como foi minha opção de base” (Gizelda Morais, Dom Luciano, p. 242).   

Dom Luciano foi um verdadeiro sacerdote, um homem que encontrava na fé a força e o sustento para a sua vida e missão. Celebramos a eucaristia porque reconhecemos que ele é um dom de Deus concedido à Igreja que está em Aracaju, mas não somente em nossa Arquidiocese. Dom Luciano assumiu funções na CNBB, no CELAM e em Roma. Nunca a Igreja que está em Sergipe teve a repercussão universal que Dom Luciano Cabral Duarte lhe concedeu.  

Enfim, celebramos a eucaristia para pedir ao Senhor a graça, neste centenário, de receber a força do espírito evangélico para continuar hoje a obra que Dom Luciano iniciou na Arquidiocese e na Igreja Católica no mundo inteiro. A nossa ação de graças a Deus recordou com alegria os cem anos do nascimento de Dom Luciano, cuja vida foi inteiramente dedicada a Deus e aos homens e mulheres, especialmente de sua terra natal, Sergipe, nos mais variados campos da vida social e religiosa. 

Dom Luciano nasceu no dia 21 de janeiro de 1925. Nessa data, em Roma, Memória de Santa Inês, o Cabido do Papa paga, a título de imposto, dois cordeirinhos brancos, abençoados e depois entregues às monjas Beneditinas do Mosteiro de Santa Cecília no Trastevere, para que sejam confeccionados os pálios que os Arcebispos recebem na Festa de São Pedro e São Paulo, 29 de junho. Dom Luciano honrou o pálio arquiepiscopal durante todos os anos de seu ministério à frente da Arquidiocese aracajuana. 

Papa Bento XVI, em 29.6.2011, afirmou que o pálio recorda Cristo que se pôs a caminho pelos montes e descampados, aonde o seu cordeiro – a humanidade – se extraviara. Lembra-nos como Ele pôs o cordeiro, ou seja, a humanidade aos seus ombros, para trazê-la de regresso a casa. E assim nos relembra que, como Pastores ao seu serviço, devemos também nós carregar os outros, pô-los por assim dizer aos nossos ombros e levá-los a Cristo”. 

Tem ainda outro aspecto, que Bento XVI abordou na missa de início de seu ministério. “No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica: os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe aprazia. Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos” (25.04.2005).  

É conhecida a atuação de Dom Luciano no campo intelectual, na área da educação, da cultura e da formação religiosa para jovens e professores universitários. Ordenado Bispo, sua atuação, também, volta-se para as parcelas mais simples e necessitadas da população, acompanhando os passos de Dom Távora. Se Dom Luciano não acompanha a epistemologia e os conteúdos da TL, segue os passos da Doutrina Social da Igreja e a sua opção pelos pobres. Sucedendo a Dom Távora, Dom Luciano assume a luta pelas domésticas, lavadeiras, mulheres marginalizadas, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, mas sobretudo, manifesta uma enorme atenção pelo homem do campo sergipano no conhecido PRHOCASE – Promoção do Homem do Campo de Sergipe. 

A propósito do homem do campo, o evangelho Do dia 21 (Mc 2,23-28), diz que Jesus atravessa com os seus discípulos por celeiros cheios de trigo. “O importante para Jesus é mergulhar os homens e mulheres deste mundo nas realidades cheias de frutos (São Jerônimo). Foi incansável o trabalho de Dom Luciano em favor do progresso social de todo o estado de Sergipe. Depois o mesmo evangelho diz que Davi teria permitido que os seus soldados com fome comessem o pão reservado aos sacerdotes (cf. Mc 2,25-26). São Jerônimo continua o seu comentário: “Era um símbolo: a comida dos sacerdotes se tornaria alimento ordinário do povo, seja porque todos nós deveremos reproduzir em nós a vida dos sacerdotes, seja porque todos os cristãos são sacerdotes”. 

O nosso homenageado, através das aulas, escritos, pregações, retiros, peregrinação à Divina Pastora, pareceres nos Conselhos de Educação, Rádio Cultura, enfim em todo o seu ministério fazia com que os universitários, intelectuais, políticos, empresários, homens de cultura e também as pessoas simples se alimentassem do que os sacerdotes se alimentavam no templo. Nunca o templo foi tão perto dos grandes areópagos de Sergipe. 

Do testemunho de Santa Inês, cujo martírio providencialmente coincide com a celebração que realizamos, recolhemos um episódio narrado por Santo Ambrósio no momento em que os carrascos estavam para tirar a vida da jovem mártir, e ela expressa perfeitamente a atitude fundamental de entrega vocacional de nosso homenageado: “Aquele que primeiro me escolheu para si, esse é que me receberá”. 

“Se Deus quiser, no fim do próximo ano ou início, serei sacerdote de Cristo. E a oblação que vou fazer, pobre e pequenina porque é a oblação de mim mesmo, grande, porém sublime, porque feita a Cristo e à Igreja, aproveite à Religião e às almas, na medida que aprouver ao Senhor” (São Leopoldo, 10 de abril de 1946, Carta de Dom Luciano, citada por Giselda Morais, p. 53). 

O corpo de Dom Luciano está sepultado na igreja do São Salvador, não mais com os olhos voltados para a terra, como quando da prostração e do canto da ladainha na ordenação que aconteceu na Catedral Metropolitana, mas voltados para o céu, atitude de quem espera por aquele que é a sua e nossa esperança (cf. Hb 6,10-20).

Num dos episódios de sua história, ele recorda uma conversa que teve com o grande filósofo francês, seu professor e depois amigo pessoal, Jean Guitton que lhe disse: - “Luciano seu nome carrega algo muito importante: luz”. Que brilhe sempre a luz de seu testemunho, para que vendo as suas boas obras possamos dar graças a Deus (Mt 5, 16). Caros leitores, sejam as celebrações deste centenário ocasião para conhecermos sempre mais a vida e o ministério de Dom Luciano, e conhecendo sigamos os seus passos!

*Arcerbispo metropolitano de Aracaju


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